Advogado de acusado de envolvimento em Caso Beatriz, usa tribuna livre da Câmara de Petrolina e mãe da vítima protesta

A fala do advogado de Alinsson Herinque, um dos nomes envolvidos no caso da morte da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, em 10 de dezembro de 2015, gerou polêmica nesta manhã de terça-feira, 8, durante a sessão plenária da Câmara de Vereadores de Petrolina/PE, no sertão do São Francisco.

Allinson foi absolvido da prisão preventiva que havia sido decretada, tendo como acusação, ter apagado imagens de câmeras da escola feitas no dia do crime. O Tribunal de Justiça de Pernambuco, segundo Wank Medrado que faz a defesa de Allinson, ex-funcionário do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, local onde Beatriz foi brutalmente assassinada com mais de 40 facadas, enviou em documento à Casa Plínio Amorim que essa decisão foi dada dia 5 de setembro, por 7 X 3. Em outro julgamento, o mesmo TJPE tinha julgado pela prisão preventiva por 2 x 1.

Segundo o advogado, essas investigações não avançaram para que Allinson viesse a ter a prisão mantida e dos dez desembargadores, sete julgaram pela revogação da prisão. Diante do resultado, o ex-funcionário do Nossa Auxiliadora que é microempresário na cidade e teve sua imagem abalada como também a de sua família, o advogado solicitou a vinda ao legislativo para prestar esclarecimentos sobre a situação de seu cliente, sem deixar de cobrar uma resposta para a resolução do crime de Beatriz.

“Não existe ciência que o inquérito das imagens tenha sido concluído. Por isso, mesmo sendo decretada essa prisão preventiva, não houve o avanço necessário para se comprovar que efetivamente o Allinson teria tido qualquer responsabilidade pelo desaparecimento das imagens. Hoje a prisão está revogada. Allinson já está na cidade, embora não esteja emocionalmente preparado para se expor, mas espera que essa injustiça seja reparada. É importante que a gente frise que o culpado pela morte da menina Beatriz seja encontrado, mas precisamos saber nos colocar nos dois lados. A mãe que espera a resposta do Estado sobre quem praticou isso contra a sua filha, e do outro um injustiçado que teve também sua vida paralisada, junto com sua família e essa Casa, pela importância e o papel que exerce, pode ser uma parceira da sociedade para cobrar da polícia uma resposta do fato principal que é quem matou Beatriz e não um fato secundário de apagar imagens”, discursou o advogado.

Lucinha Mota que veio acompanhar a presença da defesa de Allinson na Casa Plínio Amorim, tentou falar, mas não teve autorização. Foi aí que resolveu protestar em frente ao prédio da Câmara Municipal de Petrolina.

“O advogado de Allinson deve dar os esclarecimentos não é aqui e sim na justiça. Beatriz é a vítima. Os vereadores devem cobrar esclarecimentos de quem esteja envolvido. Tenho o requerimento solicitando a instalação de uma comissão especial de inquérito que nunca foi atendida. A posição dos vereadores não está correta”, contou a mãe da vítima.

Para o presidente da Casa, o poder legislativo é a caixa de ressonância da sociedade. Ela frisou que a mãe de Beatriz, Lucinha Mota, teve autorização para vir em duas oportunidades para falar sobre o caso e que dentro do que rege o Regimento interno, o espaço deve ser dado ao contraditório.

“A gente abriu espaço para ter a fala da mãe de Beatriz e os vereadores também já destacaram, para colaborar com o caso. O Regimento diz que o direito é para todos e como dona Lucinha veio aqui por duas vezes, o advogado também quis esclarecer o fato que ocorreu em que Allinson foi inocentado. Recebi o documento dos vereadores Ronaldo Cancão e vereadora Cristina Costa, argumentando que foi solicitado. Pelo Regimento, ele teria direito. após análise, ao uso da tribuna livre. Não vamos travar o direito de ninguém”, justificou o presidente da Câmara, vereador Osório Siqueira, PSB.

REGIMENTO

O vereador e primeiro vice-presidente da Câmara de Petrolina, Ronaldo Cancão, que foi a Osório argumentar que o pedido procedia conforme o Regimento Interno, disse que o uso da tribuna livre foi dado à defesa de Allinson, da mesmo forma que Lucinha Mota teve em outros momentos na Casa.

“Ela (Lucinha) não solicitou hoje, através de documento, o espaço na Casa, já o cidadão (Wank) protocolou. Aqui a gente deu o direito, porque está no Regimento Interno no artigo 102. No dia que ela solicitar, ela terá, devidamente protocolado. Lembro que autorizamos por escrito, para doar R$ 10 mil para gratificar quem denunciasse o culpado. Solidariedade é o que não nos faltou”, justificou Ronaldo Cancão, rebatendo as críticas de Lucinha Mota. Cancão não gostou quando perguntado, se o legislativo estaria sendo usado numa disputa entre acusação e defesa do caso, já que ao autorizar a fala de um advogado de uma pessoa investigada pela acusação, pode levar a população a não estender a postura do legislativo.

“Essa é uma pergunta indigesta, a pergunta nos ofende. Não estamos fazendo política com esse caso de forma alguma. Peço desculpa como me referir na resposta, mas sou contraditório sim. Apenas a lei garante o direito do cidadão vir aqui se manifestar como foi dado e continuará sendo dado à mãe”, declarou o primeiro vice-presidente da Câmara de Petrolina.

A colega Cristina Costa reafirmou a tese de Ronaldo. “Fomos até o vereador Gilmar Santos, presidente da Comissão de Direitos Humanos e encaminhamos à Mesa que analisou, conforme o Regimento, dar o direito ao advogado de Allinson vir aqui a esta Casa, fazer os esclarecimentos após a decisão da justiça”, frisou.

Por Cinara Marques

Notícias do Parlamento, Redação Portal Tribunna